Prós e contras: vários detalhes e bastidores da licitação do transporte coletivo de Santa Maria

Prós e contras: vários detalhes e bastidores da licitação do transporte coletivo de Santa Maria

Foto Arquivo Diário

O lançamento da primeira licitação do transporte coletivo da história de Santa Maria é um passo importante e histórico, mas como eu sempre disse, não resolverá todos os problemas num passe de mágica. Vou listar aqui impressões a partir de informações trazidas no edital, na apresentação do prefeito, na entrevista com a ATU e com base em conversas com fontes da prefeitura nos bastidores:

Promessa de melhorias

Entre os vários itens do edital, o que mais chama a atenção em termos de previsão de melhorias é o que prevê a redução da idade máxima da frota em circulação. Hoje, são aceitos ônibus de até 20 anos de uso, mas a partir do novo contrato da licitação, a idade máxima cairá para 8 anos. A idade média, que hoje é de 9 anos, tende a cair para cerca de 3,5 anos, podendo ficar no máximo em 5 anos. Se houver vencedor na licitação, isso indica que os passageiros vão encontrar ônibus mais novos: ou seja, mais seguros, limpos e confortáveis.


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Risco de licitação deserta

Mas uma fonte na prefeitura comentou, nos bastidores, que está nessa exigência de ônibus mais novos o risco de não haver empresas concorrendo na licitação, que poderia dar deserta. Essa fonte acredita que a idade máxima poderia reduzir de 20 para 12 anos, para não tornar o custo da tarifa tão elevado e reduzir o risco de a licitação dar deserta. Vamos aguardar.
Logo depois, ouvi do diretor da ATU, Edmilson Gabardo, essa mesma preocupação. Ele comentou que um ônibus de 20 anos vale R$ 150 mil, enquanto um novo custa R$ 900 mil, e um veículo de 3 anos e meio, de R$ 500 mil a R$ 600 mil. E a remuneração das empresas é feita com base também no custo da frota e eleva a tarifa.

 
Empresas de fora?

A ATU já deixou claro que tem intenção de concorrer na licitação, a depender ainda de análise mais aprofundada do edital. Porém, a dúvida é se haverá empresas de fora disputando. Segundo a prefeitura, por enquanto, nenhum empresário de outra cidade ou Estado pediu informações sobre a licitação. Porém, há possibilidade de alguma concorrer. Por outro lado, também há o risco de aparecer algum aventureiro, prometendo tarifa mais baixa, mas depois não fazendo um serviço de qualidade ou com o mínimo exigido no edital. Em concorrência pública, há esse risco. Vejam o que ocorreu em São Paulo, em que duas empresas de ônibus tinham ligação com o PCC e tiveram contratos rompidos.

De 192 ônibus, 54 com ar

O prefeito chegou a falar que seriam 24 ônibus com ar-condicionado na licitação, mas, na realidade, o edital diz que serão 54 (30% da frota). O cidadão esperava bem mais veículos com ar, mas também é preciso levar em conta de que tudo é custo a mais que pesa na tarifa. Atualmente, a cidade tem 20 ônibus com ar-condicionado.

Falta de obras da prefeitura

Quanto à qualidade do transporte coletivo, ele não depende só de ônibus novos e em horários frequentes. É preciso de corredores exclusivos e, principalmente, paradas com abrigos decentes e paradões adequados. E nesse ponto, a apresentação da prefeitura foi falha. Assim como prevê exigências de melhorias para quem vencer a licitação e for operar o transporte, a prefeitura deveria ter lançado uma contrapartida, anunciando obras pesadas de novos terminais adequados, como o da Avenida Rio Branco, o dos Bombeiros e outros pontos da cidade. As pessoas não podem esperar por ônibus pegando sol e chuva, e sem ter placas informando que horas passa qual linha naquele local. Também não foi anunciado nenhum corredor de ônibus. Só com eles é que o transporte coletivo vai poder ser um pouco mais ágil e tentar competir com os carros e motos.

Falta de garantia de subsídios

A prefeitura luta para conseguir verbas para o subsídio que barateia a passagem. Neste ano, pagou R$ 4 milhões, mas a ATU fala que já tem R$ 10 milhões ainda a receber, sem sinal claro da prefeitura de quando vai pagar. Qual empresa de fora vai assumir o serviço sem essa garantia de pagamento do subsídio para 2026 e os próximos anos?

Com cobradores

Uma dúvida era se, na licitação, haveria cobradores ou não nos ônibus. O edital deixa claro: estão previstos 106 cobradores, além de 383 motoristas.

Ônibus elétricos

Em 2023, a prefeitura se cadastrou em programa federal para 16 ônibus elétricos, que seriam comprados e repassados para o sistema de transporte coletivo. Isso previa ainda oito estações de recarga, a um custo total de R$ 60 milhões. Questionado ontem se esse projeto foi adiante, o prefeito Rodrigo Decimo afirmou que a prefeitura optou por não comprar esses ônibus elétricos, porque eles são três vezes mais caros que um ônibus normal, além de ter gastos elevados com manutenção e preocupação com a segurança, por ter baterias elétricas.
Além disso, como seria um financiamento pego pela prefeitura, não sendo dinheiro dado pelo governo federal, a conta iria ter de ser paga depois.

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Deni Zolin

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